sábado, 24 de novembro de 2012

Os olhos são a janela da alma


Ela tem olhos de cigana oblíqua e dissimulada.” Os olhos de ressaca, os olhos profundos que tragam feito o mar. Capitu foi uma das primeiras personagens literárias femininas que eu tive contato. Dom Casmurro em si, foi um dos primeiros livros que li, embora uma leitura difícil para a minha cabeça de 12 anos, o livro envelhecido pelo tempo, guardado no meio das coisas da minha mãe me chamou a atenção. Mesmo tendo lido há tanto tempo, ainda hoje, Capitu permanece sendo uma das minhas personagens favoritas. Tanto pela sua personalidade forte, determinada, quanto pela forma romanceada que ela nos é descrita. Capitu, é sem sombra de dúvidas uma das personagens femininas mais importantes de nossa literatura, sendo mais protagonista que o próprio Bentinho, ela representa, pelo menos pra mim, a força e a audácia da mulher.
Ainda mais se pensarmos no contexto social do século XIX, Capitu possui um comportamento totalmente às avessas do que se era esperado, ela representa a capacidade de subversão, de autonomia e de coragem feminina. Além de possuir todos esses elementos que por si só já me chamariam a atenção, Capitu apresenta o adicional que é o caráter enigmático de sua personalidade, os olhos que dizem tudo e não dizem nada, a dualidade, a versatilidade de emoções e sentimentos. Uma das características físicas minhas que sempre comentavam é o fato de ter olhos grandes e expressivos, o que por muito tempo me incomodou e chegou a ser motivo de bullying na infância, e que hoje conseguiu adquirir outros tons. Ela é minha forma de contato mais verdadeira com qualquer pessoa, a forma mais límpida e mais translúcida de me conhecer.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O que a chuva une o sol separa




Chovia forte lá fora, daqueles pés d’água que caem de uma hora pra outra como o dilúvio dos fins dos tempos. Ela entrou correndo no café, cabelo castanho molhado, vestes encharcadas e botas enlameadas. Sentou, pediu um café bem quente e de dentro do casaco molhado tirou um livro grosso, examinou-o com um cuidado de quem anseia por ver se um filho não se machucou ao cair da escada, abriu na página marcada com uma caneta lilás deu uma olhadela em volta e baixou seus olhos negros à ele.
Do outro lado, um rapaz magrelo, de óculos e uma barba espessa levantou a cabeça quando a invasora intempestiva apareceu.Por trás dos seu óculos grandes de aros redondos examinou atentamente a figura estranha, o cabelo longo e irregular pingando em suas costas, os olhos grandes,grandes com uma imensidão negra e infinita, as mãos e os pés pequenos e os ombros estreitos.Tentou ver o livro mas não conseguiu identificar o título.Ela,absorta na leitura não percebeu que era observada.Ele, introspectivo  não se dirigiu à ela,contentando-se em admirar sua figura.Não a conhecia,nunca a tinha visto na vida e mesmo assim sentia-se compelido a admirá-la.Não era daquelas extremamente bonitas,era comum e ao mesmo tempo diferente,parecia estar dissociada do local em questão.O magnetismo o prendia á olhá-la em cada gesto, cada virada de página,cada vez que bebericava o café ou piscava os grandes cílios.
Seu café esfriou e o capítulo do livro dela acabou. Quando pediu a conta percebeu o ávido olhar no outro extremo que a examinava como se fosse uma obra de arte em tamanho vivo. Envergonhada baixou os olhos e esperou a conta, convencendo-se de que era engano. Tentou concentrar-se em começar o capitulo seguinte, mas não adiantou, pelo canto do olho, observava a figura mediana, sentada com uma xícara nas mãos grandes de dedos longos, a barba espessa, mas macia que dava quase pra sentir, os olhos atentos e um olhar lânguido, um ar de calma premeditada e introspecção instigante, Ele tinha um ar de mistério e subjetividade, seu olhar não transparecia aversão ou contentamento, apenas olhava-a.
Ela queria voltar ao seu livro, mas porque diabos não conseguia parar de prestar atenção no estranho? E aquela conta porque demorava tanto? A chuva cessou, o sol meio que de brincadeira apareceu brilhante como se nunca tivesse sumido e a garçonete sorridente finalmente chegou. Ela pagou a conta, levantou e foi embora num átimo de segundo, daquelas atitudes que tomamos no ímpeto de situações tensas, da qual se arrepende segundos depois.
Ela, não encontrou nunca mais aquele café que se refugiou ao acaso e nunca mais conseguiu iniciar o capítulo do livro marcado com a mesma caneta lilás.
E ele?Se encontra sentado no mesmo café, na mesma hora, todos os dias

Meio assim




Era meio assim. 
Meio esquisito, meio filósofo, meio poeta, meio ácido, meio comunista, meio músico.
E ela meio que assim se encantou, se identificou, se irritou, se confundiu, se apaixonou.
E com meias palavras, meios gestos, meios olhares, meias verdades, a história; meio que assim, não terminou. 

sexta-feira, 9 de março de 2012

desADMIRÁVEL MUNDO NOVO



“Comi a civilização. Ela me envenenou; fiquei contaminado. E então engoli minha própria perversidade.”


Essa frase de Admirável mundo novo me deu muito que pensar esses dias após uma discussão. Partindo do pressuposto que discutir em tópicos sociais é perca de tempo, pelo menos essa é a minha opinião, percebi que no demais não é exatamente assim. Isto é, também se levarmos em conta o assunto. E de qualquer forma de um jeito ou de outro, é discutindo e questionado, ouvindo convicções repetidas com firmeza que podemos ter um parâmetro sociológico de muitos casos.
Enfim deixando de enrolação, tudo teve início quando eu recebi a atualização de um comentário em uma charge que uma ex-professora minha tinha compartilhado no Facebook e eu tinha curtido. Charges estas, aliás, que circulam pela internet, funcionam tanto como outrora serviam os Autos do Gil Vicente fazendo a sociedade rir da ridicularização dela mesma de forma inconsciente, como também ilustração satírica e crítica de muitos episódios de nosso dia-a-dia.
Pois bem há muito tempo que eu decidi tomar a postura de não contestar cada comentário mal-informado, preconceituoso e obtuso que eu vejo na internet, me limitando a defender o que EU acho e argumentando tais convicções. Lembro de olhar embasbacada os comentários raivosos e inacreditáveis que via, após ler qualquer notícia relacionada ao caso “USP” nas grandes mídias ano passado, ouvia tanta declaração desinformada e estereotipada uma postura justiceira e ‘carnificiosa’ que era de assustar. Pois bem, entretanto, nesse dia meu autocontrole se esvaiu e eu fui obrigada a questionar tal comentário tão inverossímil que vi.
Pulando a discussão em si que não deve interessar - pra você, que deve ter achado meu blog ao acaso em uma noite de insônia ou um domingo tedioso - eis que a charge envolvia o caso “Pinheirinho” junto com o punhado de ações violentas que o governo de São Paulo vem realizando embaixo das nossas fuças. Em um dado momento da discussão o respectivo indivíduo meu interlocutor soltou a seguinte afirmação protótipo-capitalista “Eles não têm onde morar porque não tivera capacidade pra isso”
Ok, o pouco de esperança que eu tinha de plantar a semente da dúvida e da busca por outras fontes, morreu ali, e pude constatar e dimensionar tamanho individualismo e egoísmo do indivíduo moderno.
É como o Huxley descreveu no livro do qual extraí a frase do prólogo, as pessoas são condicionadas e por isso possuem capacidades diferentes, estando sujeitas a viver e morrer na mesma condição muitas vezes desigual e subumana. Entretanto, ao contrário dos bokanovskados de Huxley esse condicionamento não se dá de forma laboratorial e científica e sim se define pelo seu poder aquisitivo ou sua afortunada ou não tentativa de sair círculo social onde está inserido, mesmo tendo o sistema social e econômico empurrando o de volta para dentro.
Mas o mais impressionante é a capacidade de aceitação de tamanhas crueldades, como deixar crianças, famílias inteiras, seres humanos a míngua ou em condições precárias somente por esse argumento tão individualista.
O que eu me pergunto é: QUANDO deixaremos de achar que só porque NÓS estamos em uma condição mais privilegiada ou nas palavras do mundo competitivo Tivemos mais CAPACIDADE de conseguir bens materiais (pois claro, sua capacidade é medida pela sua conta bancária, pelo carro que você tem na garagem e pelo relógio que você ostenta, do que por características ínfimas e tão pouco relevantes como caráter e integridade) e vamos olhar para uma injustiça ao lado e se indignar a ponto de sentir como se fosse com você?Ao contrário dos seres bokanovskados nós ainda, e digo ainda, não fomos condicionados laboratorialmente. Nosso tratamento hipnopédico é feito conosco bem acordados, por isso nossa servidão voluntária é bem mais fácil de ser interrompida, quebrar o processo que nos levará ao mundo que o Huxley descreveu há oitenta anos atrás é mais fácil e tem que ser feito enquanto é tempo, porque muitas semelhanças já podem ser notadas agora.. Precisamos fazer exatamente como o Selvagem de Huxley fez; sentir o gosto amargo do fel e vomitar toda a perversidade que a civilização do Admirável Mundo Novo nos deu.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Melancolia



O relógio bateu meia-noite. Vinte e quatro horas se passaram. Um novo dia se anuncia. E ela. Ela continua deitada. Ela. Ela não vê diferença entre dia e noite. Meia noite e meio dia. Dormir ou acordar. Acordada ela parece dormir. Um sono estático. Hirto. Morto. Morto. Morto como seu olhar. Ela escuta, mas não ouve. Ela enxerga, mas não vê. Ela fala e não compreende. Ela vive... Vive... Vive e morre. Ela, foi feliz feito criança em dia de sol. Ela, já foi triste como dia nublado. Ela, já foi amarga feito café sem açúcar. E hoje?Hoje ela é espírito, só que sem vida. É como ser jogada em um poço de espinhos e não sentir ser espetado. É como passar pela multidão e não ser notado. Não importa se é feriado ou dia útil. Dia de sol ou dia chuva. Entorpecida. Inerte. Imóvel. Apática.De olhos vidrados e coração pulsando. Ela morreu por dentro e espera a hora de morrer por fora. MELANCOLIA. Não, não, não despertou.  

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Revolução




"A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias têm sido a história da luta de classes" é com essa afirmação que Marx e Engels iniciam o manifesto comunista,afirmação essa que se mostra verdadeira quando analisamos que boa parte,para não dizer toda a parte, de mudanças ocorridas nas sociedades ao longo dos séculos ocorreram por meio de revoluções e levantes.
Revolução Francesa,Revolução Russa,Revolução Cubana,Primavera de Praga,Primavera dos Povos,Comuna de Paris são bons exemplos disso,sem contar as pequenas revoltas ocorridas dentro do nosso país como a Guerra dos Farrapos,a Cabanagem,a Revolta dos Malês,a Sabinada a Balaiada enfim...as infindáveis  Revoluções e Revoltas ocorridas ao decorrer da história.
Essas revoltas foram um dia embriões de um sonho,vistos até mesmo como utopia ,de uma sociedade melhor e mais igualitária,nasceram da insatisfação e da não aceitação da mesma e ganharam corpo e voz na Revolução e nos processos que se seguiram.
Acima de tudo as Revoluções nascem das IDEIAS,a insatisfação com o regime vigente,a frustração diante de problemas sociais e a vontade de colocar o mundo nos eixos são sentimentos que criam um solo propicio á semente revolucionária.
Como também já dizia Marx,opressores e oprimidos vivem em guerra interrupta,ora  franca,ora disfarçada e que terminou sempre por uma transformação revolucionária .Para se alcançar essa transformação  muitas vezes as revoluções são marcadas pela violência.Quando duas classes não podem coexistir juntas,uma delas terá que necessariamente cair.
Toda sociedade que se basear numa divisão por meio de classes( seja essa sociedade feudal,capitalista e até mesmo as pseudo-socialistas) em que não houver distribuição por igual de riqueza,trabalho e diretos têm seu declínio marcado,pois, logo que sua população cansar de sustentar uma minoria,haverá um levante e derrubará o regime por terra.
As revoluções citadas acima,por mais inovadoras e sociais que foram em seu início  tiveram fim de maneira que,mesmo com a vitória da batalha, a guerra perdure até hoje,ainda hoje não existe esse estado igualitário e essa tal liberdade que tantas delas pregaram .A França com seu Iluminismo libertário,que dando poder a burguesia lançou bases ao capitalismo,A Rússia que,isolada em seu Socialismo no meio do continente mais capitalista do mundo,acabou com o sonho do governo do proletariado e deu incio a ditadura do proletariado(mas que na verdade era a ditadura de um punhado de governantes) e o sonho de Democracia da turma das "Diretas Já" que até agora não se concretizou.Enfim a tão sonhada Igualdade que ainda não foi atingida faz com que o processo de Revolução ainda esteja em andamento atualmente.
Como vimos com a Primavera Árabe, o Ocupe Wall-Street e outros levantes populares o gene revolucionário não deixou de existir e enquanto a tão sonhada Igualdade entre os homens não passar de utopia muitas revoluções estarão por vir.




"It takes a revolution to make a solution;too much confusion so much frustration, eh!I don't wanna live in the park ,can't trust no shadows after dark So, my friend, I wish that you could see like a bird in the tree, the prisoners must be free!"Bob Marley Revolution.



domingo, 11 de dezembro de 2011

O Amor Vai Nos Separar




Quando a rotina corrói duramente e as ambições são pequenas  o ressentimento voa alto mas as emoções não crescerão vamos mudando nossos caminhos pegando estradas diferentes.
Esse trecho aí de Love Will Tear us Apart do Joy Division é perfeito pra definir minha vida ultimamente. Em um âmbito geral mudei o rumo do meu caminho pra uma estrada diferente das pessoas que antes eu convivia.Tudo bem que isso é inevitável certas horas da tua vida mas mesmo assim eu não achei que seria dessa maneira.Primeiro porque acabei percebendo que certas coisas não eram tão verdadeiras quanto eu pensava e que as pessoas mais uma vez podem te decepcionar e te machucar de uma forma inacreditável.Mas enfim...como o Arnaldo Jabor disse em um dos seus textos deu certo enquanto durou só que acabou. 
Concordo que as pessoas passam na sua vida e você tem um tempo pra aprender e ensinar com elas, depois elas vão embora; mas é certo que essa partida não precisa ser de forma que te magoe e deixe ressentimentos ou pior te decepcione. Enfim... ser humano é uma coisa surpreendente, tanto pro bem quanto pro mal.
Mas voltando ao tema lá de cima eu, como li em um textinho do tumblr, to praticando a arte do desapego, chegou a hora de mudar totalmente, deixar pra trás a roupa velha, o que não serve mais, deixar de lado o que já está batido, cansado,corroído,desgastado e ir atrás de coisas novas.Novos sorrisos,novas pessoas,novas experiências,novas idéias, DE REIVENTAR.
Quando algo não te engrandece mais e os atritos são sempre freqüentes é um sinal vermelho que alerta que chegou a hora de mudar de caminho.Simplesmente têm pessoas que não conseguem entender certos sentimentos seus porque  não passaram por situações que a fizessem adquirir eles, ninguém tira ninguém da bolha de ninguém,ás vezes,só depois de muito tempo , depois que essa pessoa tropeçar e se machucar tanto ou quase igual você, ela entenda o que você sentia; a gente só aprende que a vida não é um conto de fadas depois que o nosso lobo mal aparece na nossa história.Pra uns isso acontece antes, pra outros nunca.
Enfim independente do quão as atitudes e posturas possam ter sido tomadas e do quão elas possam ter deixados feridas, e não só com uma,duas,três pessoas, é hora de mudar de rumo,guardar em uma caixinha tipo aquela da Emília, as coisas boas que ficaram e jogar fora os ressentimentos,algo que possa ter te magoado e principalmente palavras atiradas como pedras.É hora de ir atrás de gente nova, e porque não?Gente que se pareça contigo que compartilhe de certas coisas e consequentemente de certos sentimentos, afinal não adianta só cobrar mudanças dos outros se você não mudar e aceita-los como eles são,com suas dores,seus ressentimentos e suas neuras, isso é amizade é disso que eu to falando.
Um amigo principalemente resolve os problemas que têm com você,pra que mesmo que depois cada um siga seu caminho não possa existir ressentimentos entre vocês e depois de anos os momentos bons possam ser lembrados com um sorriso no rosto.
Tô atrás de gente nova, de mente e coração aberta, que abra meus horizontes, que tenha um papo e uma cabeça legal,que seja velha que nem eu,que compartilhe, que ajude, que adicione. Quero jogar fora todas as roupas velhas e desgastadas do guarda-roupa ,aquelas que ás vezes só se guarda de teimosa e em lembrança do que elas já foram um dia, sem avaliar o elas realmente são hoje.Quero abrir espaço pra que novas cores,novos tons,novas peças,novos estilos façam parte da minha coleção.A partir de hoje vou renovar meu guarda-roupa,meu caminho,minha VIDA.
E pra encerrar mais uma do Joy Division:

Change of speed, a change of style a change of scene, with no regrets (…)Different colours, different shades,directionless, so plain to see - New Dawn Fades.